sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Década Zero!


Findada a década 00, podemos agora dizer que encerramos um ciclo e que agora iniciamos um novo. Muito ficou para trás, muita história escrita, mas muita mais por escrever derivada do que deixamos para trás. Influenciado por um artigo que li na revista Blitz deste mês (nº44/Fevereiro), decidi fazer contas à vida e fazer um balanço do que por aqui se tem passado.
Se me dissessem na altura do suposto bug informático de 2000, que na realidade não passou do primeiro valente flop da primeira década, que eu iria estar agora onde estou, como sou, e a fazer o quê, eu muito provavelmente ter-me-ia rido às gargalhadas, teria virado costas e tinha ido para as aulas de ginástica aeróbica ou danças de salão. Sim, na altura o Pi era um jovem promissor adolescente, que começava a dar as suas primeiras pisadas nos palcos do mundo gay. Ainda não havia entrado (faltava-me a cunha), mas já estava a treinar para uma carreira de sucesso (!?). A vida dá realmente voltas de 180º e muitos dos sonhos vêem-se obrigados a ficar para trás, e se eu, infelizmente ou felizmente tive de abdicar de muitos dos projectos que me davam real prazer, nem tudo foi assim tão negro e posso dar-me ao luxo de ter descoberto novas sensações igualmente com prazeria.
Se a dança era uma grande paixão, a par da representação, na altura faltou-me a maior escola de teatro (será?) da actualidade. Faltou-me os Morangos com Açúcar para poder dar continuidade ao que na altura pretendia fazer, mas também, querer ser Jornalista Político com 14 anos não ajudou lá muito à utopia de querer ser um artista. E sem que me apercebesse, estava eu numa escola de moda em pleno ano de 2002, a estudar. O que é que aconteceu no meio disto tudo? O Pi encarou o espelho e com 16 anos chamou-se pela primeira vez de homossexual! Sim, foi neste ano que se deu o despertar e que enfrentei o mundo a tremer, mas consciente de que era diferente e de que afinal ter andado a brincar às Barbies queria dizer alguma coisa. E após uma fase negra em que parava o trânsito porque insistia em usar roupas feitas por mim, lá decidi que afinal o que eu queria era desfiles de moda, roupa, drogas… e sexo?
Os dezasseis anos foram realmente aquela idade da reviravolta, e será por isso que a década zero ficará para sempre guardada na minha memória. Obviamente que muito ainda havia por assimilar, mas quando se encara com veemência aquilo que se é, já é um grande passo! Tomará a todos aqueles que ainda vivem no armário. Mas foi também durante os três anos seguintes que somei à minha existência o mais vasto role de loucas experiências. 2002 – 2005 Foram os anos em que tive relações sexuais com um homem pela primeira vez e que as repeti vezes sem conta. Em que afirmei o meu hábito de fumar e o comecei a fazer diariamente, e bem, note-se. Em que experimentei as drogas. O álcool que me levou à minha primeira valente bebedeira. Em que entrei num mundo de famosos e promiscuidade. Em que entrei na idade adulta sem saber patavina do que isso queria dizer.
Se o mundo vivia ocupado nas modernices que agora nos acompanham, como os telemóveis, os ipods, o Google, o youtube e todo o universo cibernético. Se andavam ocupados em derrubar torres na América, a discutir o preço do petróleo, ou até a deprimir com a actual depressão que se vive à custa da crise financeira, eu até meados de 2009 não me deixava afectar por nada disso. Quanto aos primeiros, limitava-me a recebe-los de bom grado na minha vida, quanto aos segundos, bem, estava demasiado ocupado em tentar construir a minha identidade para me preocupar com problemas globais. É o bom de se ser adolescente, passamos a viver num egocentrismo idiota que nos faz viver numa redoma de vidro, demasiado cega portanto.
Mas foi também nesta década que eu vivi o meu grande amor. Que por entre tanta promiscuidade me apaixonei. Que passei por três fases na vida de um Homem, criança, adolescente e adulto. Que fiz milhares de descobertas que hoje decoram o meu armário de lembranças e memórias. Se me vou lembrar desta espécie de época dourada? Claro! Por mais décadas que cheguem e partam, e que por mais recheio que estas tenham, a primeira década do novo milénio ficará para sempre guardada na memória por ter sido aquela tão repleta de primeiras vezes.
Certamente para uma grande maioria de vocês, esta década tem o mesmo sentido que para mim, e por mais rasca que chamem à nossa geração, um dia fomos tão estupidamente felizes, por sermos tão incrivelmente puros e inocentes, que basta somente isso para recordarmos com nostalgia.
Beijinhos, Pi.*

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