sábado, 6 de fevereiro de 2010

Foder e Ir às Compras

No outro dia, perdido em mais uma das minhas muitas navegações pelo fantástico mundo da internet, dei de caras com a imagem deste post. Fiquei a olhar para ela durante uns segundos, e após uma sonora gargalhada, cheguei à conclusão lógica de que este podia ser perfeitamente o título da minha vida, e confesso que fiquei momentaneamente invejoso por não ter pensado neste nome para o meu blog (sentimento feio eu sei). Mas como já não podia fazer nada, pensei, porque não falar sobre isto nos Disparates? Se afinal esta é muito mais do que uma filosofia de vida, indo para além de um status.
Foder e ir às compras, e desculpem o termo usado, mesmo que in ipsis verbis, mas só o próprio título em si suscita curiosidade e dava pano para mangas. Mas, questionando-me interiormente, afinal o que vem a ser isto? Bem, usando uma vez mais o exemplo, na série da menina Bradshow, Sex in The City, elas quase que cantavam uma nova missa de uma religião surgida da nova década! E no final, ambas ganham o mesmo sentido, usar e deitar fora… Vivemos numa aldeia global, correcto, o número de pessoas que conhecemos hoje em dia é muito mais elevado que na idade média, certo. O tempo que perdemos com as coisas é cada vez mais baixo, correctíssimo. Logo, enjoamos muito mais rápido, bem como a paciência se desvanece à velocidade da luz, ficamos enjoados e deitamos fora. Se acontece com o que compramos, porque não isso acabar inevitavelmente por acontecer com as pessoas entre si? Isto claro, numa comparação entre o verbo e o predicado, o primeiro e o segundo.
Tudo bem, aqui podemos encontrar outro sentido (se não um terceiro visto mais à frente), em que fodemos literalmente e depois vamos às compras. Sem pesos na consciência, como que um seguimento natural das coisas, um hábito, uma rotina, algo marcado na agenda. Ou então, podemos comparar a foda como algo tão natural como ir às compras! Em qualquer das três interpretações, falamos de fast life e tenho dito.
Num conceito final, e propriamente ligado ao Pi, foder e ir às compras podia perfeitamente ser a união entre os três, porque sinceramente, já fiz de tudo e pinar apesar de bom, quando bem feito, não passa disso mesmo, Pinanço! Eu sei que faz falta, eu sei que satisfaz, eu bem sei que o podíamos fazer todos os dias e quando falta andamos a bater com a cabeça nas paredes, mas no final, umas belas compras (e aqui falo de futilidades) acabam sempre por prevalecer sobre a foda. Porque uma queca, podemos nós perfeitamente ter igual logo à noite, mas aquelas calças que nos ficam mesmo bem, dificilmente encontraremos igual. No mínimo, parecidas! Bem, mas isto também se aplica ao sexo… E lá voltamos nós às comparações. No final, e para não me alongar mais nesta divagação, acho que podemos muito bem afirmar de que Shopping & Fucking pode perfeitamente ser o mesmo. Fica a questão…

Na realidade, esta imagem pertence a uma peça de teatro com texto de Mark Ravenhill e Direcção Artística e Encenação de Gonçalo Amorim com o mesmo título do post. Estando em cena a 29 de Abril no Teatro São Luiz, da qual deixo abaixo a sinopse.

Esta inspirada peça de Mark Ravenhill congrega toda a sua brutalidade, inteligência e ironia no título, que nos faz mergulhar imediatamente no seu imaginário. De facto, há dois planos políticos que se entrecruzam e tecem a peça: Shopping & Fucking é, por um lado, um check-up à sociedade de consumo e, por outro, revela uma sensibilidade extrema quanto à dinâmica das relações.
Mark, um toxicodependente em recuperação, comprou Robbie e Lulu no supermercado, duas pessoas que passaram assim a viver com ele e a ajudá-lo no seu tratamento. Diz procurar relações que não signifiquem nada, que sejam como transacções, uma vez que proclama “nada de dependências”.
São personagens que usam o dinheiro como anestesia, que fazem do consumo uma vacina para o desejo, para, no limite, se tornar explícito que não dá. Não funciona. E no entanto vai funcionando...
Uma reflexão sobre a globalização, a violência e o corpo, questões que estão definitivamente instaladas nas sociedades contemporâneas e que se materializam em aberturas e rasgos no cenário de cartão e em actores que vomitam palavras
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