terça-feira, 10 de novembro de 2009

A Minha Paixão Pop (Parte I)

Hoje vou falar-vos de uma pessoa muito especial que um dia passou pela minha vida. A história já tem mais de dois anos, mas no entanto, ficou marcada na minha memória por ter sido intensa e talvez um dos maiores desastres que o Pi já cometeu na sua vida amorosa. Não o recordo hoje por ter alguma saudade dele, ou por o sentimento não estar devidamente guardado no passado, ou até por ainda gostar da pessoa em questão, mas sim porque tenho andado numa onda de reflexão, de análises, de me julgar a mim próprio, de tentar entender possíveis brechas que não ficaram devidamente tapadas. E também, porque a vida não é feita só de casos tórridos de sexo desenfreado, podendo dar-me ao luxo de dizer que já tive as minhas paixões, bonitas e “comerciais” como esta. Vou aqui chamá-lo de Lourenço, sendo que já sabem que gosto de dar nomes fictícios para manter a privacidade das pessoas envolvidas.
Apesar de curta, a minha a relação com o Lourenço foi de tal forma intensa, e assumo a repetição da palavra por ter sido exactamente isso, intensa. A forma como tudo começou e o desenvolvimento da acção foram tão inesperadas e ditas “normais”, que nunca pensei poder ter algo com alguém e começar uma relação fugindo ao estereótipo das relações homossexuais.
Estávamos no ano de 2007, mas eu já o havia visto no ano anterior no Pride, a festa de orgulho LGBT. Na altura, ele estava no grupo de uma amiga minha, a Maria, e eu tinha achado imensa piada a este seu amigo desconhecido, no entanto, não disse nada e guardei a minha opinião nos meus pensamentos pois pensei que provavelmente não iria dar em nada. Mas, uma certa noite, já passados meses, e estarmos num novo ano, quando num antigo local do costume no Bairro Alto, lá estava ele novamente. Continuei a mirá-lo, a tentar perceber de onde o conhecia, até que a minha memória infalível atinge o que eu queria, era o mesmo rapaz do ano passado. Desta vez, deixei a timidez ou os pensamentos parvos de lado e decidi questionar a minha amiga acerca daquela pessoa. “É solteiro?” “Quantos anos tem?” “Então e, o que é que ele faz na vida?” “É de onde?” “Vá, quero saber tudo!” E após o interrogatório dar-se por completo e eu ter gostado do perfil traçado, lá me foi apresentado devidamente o Lourenço. E que bela e agradável surpresa.
Estivemos a noite toda a conversar. Os temas pareciam que não se esgotavam e que eu e ele nos conhecíamos há décadas. Eu, estava cada vez mais afim, embora soubesse que este era um tipo de rapaz diferente, e que dali quereria muito mais do que uma noite de sexo, no entanto, não era nada disto que pairava sobre o meu pensamento, simplesmente estava a desfrutar da sua companhia e a aproveitar aquele momento, estava de facto a ser perfeito conhecer alguém, através de uma amiga, e que ainda por cima sabia conversar, era super giro, divertido, e tinha tudo a ver comigo. A noite passou-se e eu resolvi arriscar e pedi-lhe o seu contacto. Lá trocamos os números, mas este disse-me que estava sem saldo e que ia carregar o telemóvel. Eu fiquei naquela não é, ora que bela desculpa e tal, e entendi de que o sentimento se calhar não havia sido mútuo, no entanto, ao sair da discoteca com os meus amigos, já de madrugada, porque ele tinha ido para casa após o Bairro, decidi mandar-lhe uma mensagem a dizer que tinha gostado de o conhecer e tal e que gostava de tomar um café com ele nessa semana. Não obtive resposta como é lógico, mas qual não é o meu espanto quando ao acordar, agarro no telemóvel e vejo que ele me tinha mandado uma mensagem do telemóvel de outra pessoa. Pensei… Bem, repensando de cabeça fria, ele até pode estar interessado em pelo menos conhecer-me melhor, ou então, pronto, é daqueles casos raros e é um simpático do caraças, de qualquer forma queria descobrir!
Uns dias passaram, ele lá carregou o telemóvel, e nós tivemos o nosso primeiro date. Foi espectacular! Nada de extravagante ou demasiado à filme de cinema. Foi um café, com inexistência de silêncios constrangedores, um pôr-do-sol numa vista maravilhosa, o que fizeram deste encontro um dos Top 10 da minha vida.
Após esta tarde, as coisas andaram naturalmente, sem pressas ou dramas. Fomos nos conhecendo, falávamos diariamente, encontramo-nos diversas vezes, só os dois ou com amigos, e eu sentia que algo surgia dentro de mim. Mas da parte dele sentia-o inseguro e reticente, e após uma longa conversa entendi que ele era demasiado inseguro com ele próprio, e por experiências do passado era-lhe difícil entregar-se a alguém, por falta de auto-estima julgava que era impossível alguém gostar dele verdadeiramente e percebi que se queria ficar com ele, teria de o provar e lutar. E foi o que fiz! Não baixei os braços ou perdi tempo a pensar que este era mais um típico caso de esquizofrenia como tantos outros que já haviam passado pela minha vida, não, este era diferente, e eu gostava dele, e a cada dia mais. Disse-lhe então que não iria insistir, e que iríamos continuar como até então, mas que agora a bola estava nas mãos dele. Ele já sabia que eu gostava dele, que queria algo mais, mas tinha de ser ele a dizer-me quando se sentisse preparado.
Os dias foram passando, sem eu desistir, e passado algum tempo, uma noite após termos ido sair com uns amigos e de já termos dado o nosso primeiro beijo, segundo, e todos os que queríamos, fomos dormir a casa de uma amiga do Lourenço. Queríamos passar a nossa primeira noite juntos, mas só isso, sem intenções sexuais. Queria adormecer ao seu lado, sentir o seu corpo junto ao meu, adormecer ao som do seu batimento cardíaco. O momento não podia ter sido mais mágico. Os dois, deitados na cama, a luz da lua a iluminar o quarto, nós a brincarmos, a trocarmos carícias e beijos, até que, de repente ele pára e fica a olhar-me profundamente nos olhos. Eu tremi com aquele olhar. Silêncio. Ele pergunta como um adolescente no liceu: “Queres namorar comigo?” Eu, corei, sorri, e disse-lhe com toda a convicção do mundo: “Sim!” Demos um beijo e ficamos abraçados até adormecermos…

Sem comentários:

Enviar um comentário