sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Minha Paixão Pop (Parte II)

...Quando acordei, tinha o ar mais feliz e idiota que possam imaginar. Aliás, a partir daquele dia passei a acordar diariamente com uma cara de parvo que só visto! E era normal, eu sabia que tinha encontrado o meu príncipe encantando, nome que secretamente ele me chamava a mim quando estava com os amigos. Tudo em nós destilava magia Walt Disney. A forma como nos tratávamos não era a convencional ou com os nomes da treta, a nossa ligação era natural e não somente de namorados, acima de tudo éramos amigos, toda a nossa relação era baseada em sinceridade e honestidade, os nossos momentos a dois eram perfeitos, bem como nós e os amigos dele, ou nós e os meus. Era tudo tão demasiado brilhante e conto de fadas que eu comecei a ter medo do que o futuro nos reservava. Nunca discutimos, nunca nos chateamos, nunca estávamos entediados um com o outro. Tínhamos muitas coisas em comum, mas ao mesmo tempo éramos tão diferentes, que a sério, olhando agora para trás, até dava gosto de nos ver juntos.
Fizemos de tudo o que é suposto fazermos nos primeiros meses de romance, teatro, cinema, um concerto, prendas, passeios de mão dada, jantares, saídas, enfim, vocês sabem como é. Tive com ele o que com poucos tive. E era muito mais do que o meu namorado, era um ombro amigo, alguém com quem eu inexplicavelmente conseguia desabafar acerca de tudo, com quem eu não tinha receios de ser eu próprio, com quem eu me sentia à vontade para tudo, com quem eu tinha mil e um planos, com quem eu, apesar de com os pés na terra, já fazia planos futuros, como onde iríamos passar as férias de verão. No entanto, apesar de tanta perfeição, pela primeira vez faltava algo a quem sempre dei alguma importância, o sexo.
Infelizmente tanto eu como ele vivíamos com os nossos pais, o que só por si já dificultava estarmos a sós mais intimamente, depois, nenhum dos dois tinha carro, portanto, fazê-lo “clandestinamente” num parque com vista para o rio (sim, conheço um com uma vista fantástica), estava fora das nossas possibilidades, e depois, casas de amigos… Bem, não era o melhor, e era como missão impossível consegui-lo. Portanto, se vos disser que posso contar pelos dedos da mão as vezes em que fizemos amor, não estarei a mentir. E já aquelas em que foram, não me perguntem porquê, mas não fomos até ao fim por esta ou outra razão. Se bem que houve espectacular na faculdade dele, mas essa vou deixar assim a pairar no ar, só adianto que foi numa sala de aula e mais não digo…
Não é que o sexo seja o mais importante, porque não o é, mas caramba, numa relação é óbvio que tem a sua quota-parte de importância, e se já é mau quando não existe química nesta parte com o nosso parceiro, quanto mais nem sequer existir. Eu confesso que no princípio esta questão nem me era significativa, mas há medida que o tempo foi passando, eu fui começando a dar um pouco em louco… Mas tudo bem, temos de ser compreensivos e quem sabe no futuro não arranjemos uma solução. Tretas, ela nunca chegou!
E por fim, quando tudo parecia estar a caminhar tão à carruagem da Cinderela, sem ninguém perder o seu sapatinho, o Pi resolve entrar em colapso cardíaco e começar a questionar os seus sentimentos acerca do Lourenço. É verdade. E sinceramente não tenho grande explicação para o que me deu ou senti naquela altura. Tenho hoje consciência de que fui um imbecil e um grande idiota, e de que possivelmente cometi ali um dos maiores crimes na minha amorosa, e que muito provavelmente devia estar preso por ele, mas que querem que vos diga? Por vezes existem atitudes que não conseguimos explicar, ou respostas que damos sem ter a certeza delas, no entanto, sabemos que as temos de dar, e lá refundido no nosso subconsciente até pode ser um aviso de que o que vamos fazer é o melhor. E foi isso que disse e fiz, terminei com o Lourenço exactamente no momento em que estávamos bem, em que nada havia acontecido, em que apenas nos faltava um sexo mais presente, mas em que nada mais nos faltava. O que lhe disse? Que não tinha certeza se era aquilo que eu queria, que não estava bem e que precisava de repensar em tudo. Na verdade, eu não estava a 100% comigo, mas que é que isso importava? Eu sei que sim, que gostava dele, e que no fundo tudo não passou de uma desculpa esfarrapada para encobrir o meu medo de não estar à altura do desafio ou de lhe dar o que ele merecia, e cobarde, preferi fugir a enfrentar os meus receios!
Hoje, sei que já nada há a fazer, e também não o pretendo. A nossa história teve um princípio, meio e fim, e hoje, ainda somos amigos. Afastamo-nos na altura, como é natural, mas passado um tempo voltámos a falar, e sempre que nos vemos é uma festa acesa cheia de abraços e “então estás mesmo bem? Estás feliz?”. Conheço o namorado dele, com quem ele mantém uma relação já muito duradoura, não sou assim íntimo do rapaz, porque convínhamos também não é daquele tipo muito sociável, mas no entanto sei que não tem ciúmes meus, e eu posso dar-me à vontade com o Lourenço. Falamos de vez em quando, por vezes menos do que se calhar ambos queríamos, mas no entanto o facto de nos darmos hoje tão bem, é o reflexo preciso do que tivemos no passado. Sabemos que fomos pop e que éramos “o amor”. Se me arrependo? Talvez. Mas não vou usar a velha “ai se o arrependimento mata-se…”. Sei que na altura devia ter feito as coisas de outra forma, mas quem sabe se não foi mesmo o melhor para hoje pelo menos estarmos bem? E de qualquer forma ele hoje está super feliz, e isso para mim chega. Quiçá não tenha sido obra do destino eu tê-lo feito assim na altura, para ele agora encontrar o seu verdadeiro príncipe… Quem sabe não é?
Beijinhos, Pi.*

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