quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O Meu Namorado a Sério (Parte III)

...Um dia, tomei a decisão definitiva de que não podia continuar com ele. Apesar de o amar, apesar de eu saber que ele era talvez a pessoa que eu sempre esperara, mesmo com os seus defeitos, nós não podíamos continuar a viver uma ilusão. Não quando os nossos planos já voavam tão alto e um de nós não tinha os pés no chão. Nessa noite conversei com ele, e terminámos pela terceira vez, rodeados de lágrimas, de um sufoco demasiado penoso para ser suportável, mas no entanto, havíamos combinado de que permaneceríamos amigos (um erro, eu sei), pois ele iria precisar do meu apoio, da minha ajuda, dado que eram poucos os verdadeiros amigos que ele possuía na sua vida e que o iriam dar conselhos e um ombro amigo sincero onde ele se pudesse apoiar. Fui para casa nessa noite, sozinho, sentindo a cama tão vazia como não sentia há meses…
Uma semana passou. E essa semana bastou para que ele encontra-se trabalho, se inscrevesse para continuar os estudos. E eu disse-lhe, apesar de estar feliz por ele, que não seria por ele mudar a sua vida tão radicalmente, na esperança de voltar para mim, que iríamos recomeçar e que estava tudo bem. Ele precisava de aprender sozinho, de fazer tudo aquilo por ele, e não por nós. E foi aí que chegou a viagem. A nossa última viagem, a nossa despedida.
O Salvador convidou-me, isto após umas duas ou três semanas depois de termos terminado, irmos viajar até Barcelona. Eu tinha lá duas amigas a estudar, podíamos ficar em casa delas, e sempre fora um dos poucos destinos que ambos gostávamos de conhecer. Eu amava-o, e apesar de os contras serem mais fortes que os prós, resolvi aceitar o convite. Ambos víamos naquela viagem uma esperança de reatarmos, apesar de eu deixar definido e claro de que iríamos como amigos, não queria misturar as coisas, apesar de ser praticamente impossível, mas não lhe queria criar esperanças. Queria primeiro entender como estávamos, deixar estes dias apesar de acompanhados, sozinhos e longe de todos, falarem por si. Mal eu sabia que esta era a nossa separação até aos dias de hoje…
Foi acima de tudo uma viagem maravilhosa, pela cidade, por poder matar as saudades da minha amiga mais próxima, de estar rodeado de cultura e de novos lugares. Mas tudo perdeu o encanto quando uma noite resolvemos ir sair até uma discoteca gay. Como as minhas amigas não quiseram ir, fomos os dois sozinhos. Dançamos, bebemos, rimos, exploramos o espaço, e, levado pelo desejo sexual, o Salvador deixou-se ir e foi até à rua foder com um espanhol. Eu sei, eu disse-lhe que éramos somente amigos, que ele era livre, que podia fazer o que entendesse, mas nunca esperei que fosse capaz de estar com outra pessoa mesmo nas minhas barbas. Ele ainda teve o descaramento de me perguntar se não havia problema de curtir com outra pessoa, eu naturalmente, disse-lhe para ele fazer o que quisesse. O nojo que sentia dele naquele momento era hediondo!
Após o ver sair para a rua, fui ao bengaleiro buscar as minhas coisas e sai rumo a casa. Andei pela cidade, ainda de noite, sozinho, de música nos ouvidos, com as lágrimas a cobrirem o meu rosto. Como tinha ele sido capaz de me fazer aquilo? Que raio de amor era aquele que ele dizia sentir? Um momento de fraqueza? Um “que se lixe, nós não somos namorados mesmo”? Eu sei, não lhe podia cobrar nada, mas podia cobrar-lhe a mágoa por me sentir enganado, por já não acreditar nos seus sentimentos! A partir daquele momento ele passara a ser um estranho, um mentiroso, um verme! Cheguei a casa, deitei-me. Ele chegou uma hora depois. Entrou na cama. Eu fingi que já dormia. Pediu-me desculpa. Eu não respondi. Perguntou se eu estava acordado. Eu dei-lhe o meu silêncio. Ele acariciou-me, abraçou-se a mim. Eu nem me mexi. Ele pediu-me para ter sexo comigo. Eu gritei que não queria nada com ele e para que ele se afastasse! Naquele momento não conseguia sequer olhar para ele, quanto mais dar-lhe toda a raiva que sentia!
No dia seguinte, acordamos, e eu optei por ignorar a noite que havia passado. Por mim, para não estragar ainda mais uma viagem que já estava estragada, pelas minhas amigas. Passeamos, continuamos a conhecer a cidade. E nessa mesma noite eu decidi que queria ir sair, que queria ir até à mesma discoteca! No fundo, eu queria vingar-me e pagar com a mesma moeda.
Num café, antes de irmos, os dois, acabamos por conversar sobre o assunto que se havia tornado tabu. Eu disse-lhe tudo o que sentia, e que se ele tinha visto aquela viagem como uma reconciliação, então tinha arruinado tudo, porque naquele momento já não havia nada a concertar e um nós já não existiria mais! Disse-lhe que quando chegássemos a Lisboa eu me iria afastar definitivamente, e que tão depressa não o queria ver. Ele chorou, eu engoli em seco para não dar parte fraca. Fomos sair.
Uma vez na discoteca, eu fiz os possíveis e impossíveis para lhe dar a entender de que estava disponível para curtir com alguém. Disse-lhe diversas vezes para me deixar estar sozinho porque estava no engate. E cheguei a trocar olhares com um gajo, mas que acabou por ir embora porque eu não tive coragem. Gritamos um com o outro lá dentro. Ele foi embora, e eu fiquei sozinho. Mas aquilo já estava a fechar e eu tive de ir embora. Ainda permaneci v
nte minutos na rua, olhando os gajos que estavam a conversar, a tentar entender se ia para casa, se metia conversa com alguém por despeito e revolta. Mas não consegui. Baixei a cabeça para que não vissem as minhas lágrimas e fui para casa. Fizemos as malas, arranjamo-nos sem trocar uma palavra e saímos rumo ao aeroporto. Mas por um percalço, perdemos o avião, e vimo-nos obrigados a ficar por mais dois dias. Eu não queria acreditar que tinha de continuar a fingir que estava tudo bem por mais dois dias, e de que iria aproveitar esta benesse maligna para conhecer o resto da cidade, com ele. Tudo bem, eu conseguia aguentar.
No dia seguinte, ele esteve constantemente a mandar-me bocas do género, “tu fazes-te de santo mas tu também sais-te cá uma rica prenda”! Andava esquisito, e eu não entendia o porquê de ele estar a dar uma de ofendido. Disse-lhe que se tivesse alguma coisa para me dizer que fosse directo porque detestava rodeios e ele bem o sabia. O dia passou-se, eu fui ver o pôr-do-sol sozinho até à praia, dar uma volta com os meus pensamentos, aproveitar os últimos momentos de verdadeiro lazer na minha própria companhia. Voltamos a discutir ao jantar, e tudo aquilo já se estava tornar insustentável! Até que ele do nada me pergunta: “Quem é o Francisco”? Eu fiquei passado, este gajo andou a mexer no meu telemóvel enquanto eu não estava cá! Perguntei-lhe porquê? E aí começou uma nova discussão. O Francisco era um amigo que havia conhecido, e não tinha absolutamente nada com ele. Éramos somente amigos, ele tinha namorado, mas estava a ser uma pessoa com a qual estava a gostar de falar porque me transmitia muita segurança e entendia tudo o que eu sentia. Mas tinha mensagens dele, inocentes, e isso foi o suficiente para ele realizar um filme com direito a Óscar em Hollywood. Tive de lhe explicar tudo para ele entender de que apesar de do que havia acontecido, eu não era igual a ele.
A noite passou. Nova tentativa de chegar a mim. Eu afastei-o. O dia chegou, fomos para o aeroporto. À minha espera um amigo meu que me iria levar até casa. O Salvador pensava que ainda me iria dar boleia, mas surpreendi-o. Olhei-o nos olhos, e disse-lhe: Adeus! Até um dia… E foi assim que todos os dramas terminaram e que a nossa história acabou.
Eu sei que ele não foi o único culpado por as coisas não terem dado certo. Tenho consciência de que era frio e insensível para com ele, apesar de ele merecer o contrário. Que nem sempre tinha um feitio fácil. Mas que podia eu fazer depois de tudo aquilo? Os danos eram irremediáveis e a melhor solução era cada um seguir a sua vida.
Actualmente ainda nos falamos, houve um ou outro episódio pelo meio que dava que falar, mas não me vou alongar muito mais nas palavras. Iria mentir se dissesse que não tremo quando o vejo, como foi caso de no passado fim-de-semana, quando estivemos os dois presentes num aniversário de uma amiga minha. Sei perfeitamente que ele foi a pessoa mais importante, a nível amoroso, que tive até hoje, e que um sentimento ainda se mantém cá dentro guardado, mais que não seja, as boas memórias do passado, no entanto, seguimos as nossas vidas conforme o combinado. Por ironia, ou não, ele neste momento é dono de um bar, pretende abrir outro mais no centro da cidade, está numa relação e até já vive em casa do namorado. Se calhar, no meio disto tudo, o problema sempre fora meu e não dele, eu é que estava demasiado cego para ter percepção disso. Que se lixe, pelo menos tive um namorado a sério!
Beijinhos, Pi.*

5 comentários:

  1. Ola... Acedo ao teu blog diversas vezes na expectativa de que tenhas um novo post.

    Ja falei contigo no msn, mas nunca te cheguei a conhecer pessoalmente...

    Ate hoje so tive um namorado a serio e revi-me muito naquilo que li de tua historia... A forma como o contaste: magnifica...

    Escreves muito bem!

    Mantem.me este Blog em actividade...

    Abraco,

    Luis

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  2. O caso típico de: 'arrependimento de uma traição' como prova de amor! Tens razão quando dizes que não deixava de ser uma traição... Tinhas que te sentir magoado, no mínimo.

    E até que ponto há pessoas capazes de o fazer para mostrarem arrependimento para provarem que o amor existe? Não o conseguem provar de uma outra forma? E até que ponto o que trai diz que o fez e que não gostou SÓ PORQUE o amor que sente por nós é maior que tudo? E quando dizem que a traição foi para nos mostrar o que não se quer ter connosco: uma curte... que se pretende UMA RELAÇÃO connosco? São lindos os argumentos, os que de repente me lembro, e ao mesmo tempo fantasiosos porque o céu ainda não é cor-de-rosa!

    E pior do que tudo isto é o de aceitar uma traição como prova de amor!!! Porque quem trai uma relação por 4h de prazer não ama e quem aceita uma traição para manter uma relação é estúpido. Será que eu sou oldschool? LooooooooL

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  3. É impressionante como revejo várias partes da minha vida, partes dos meus desgostos nas tuas histórias .. isso que te acontece a ti, e aquilo que os teus textos e as tuas palavras me fazem relembrar da minha vida, dao me muito que pensar.

    É com grande prazer que ocasionalmente venho aqui e me vejo ao espelho, e me relembro também dos erros que caí, e ganho nova força para não voltar a cair neles.

    Continua assim :D

    RR / Ricardo Rik ou qualquer outra forma pela qual já comentei o teu blog Lol.. agora vou começar a comenta-lo directamente do meu blog.
    Bj

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  4. Muito obrigado Luis e RR/Ricardo Rik pela vossa visita e pelos vossos comentários, é bom saber que posso contar com o vosso apoio e interesse, dá-me ânimo para continuar a percorrer este meu mundinho vezes sem conta!
    Um abraço, Pi*

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  5. Meu querido Amribeiror, não podia estar mais de acordo com a tua opinião, e sinceramente se calhar até és um pouco oldschool na medida em que são cada vez menos os que têm uma opinião igual à tua e agem de acordo com a mesma! No entanto, cabe a quem pensa como tu continuar a batalhar por encontrar um sol a brilhar perdido por entre o nevoeiro. Porque um dia, será possível ter-se um namorado a sério...
    Aquele abraço, PI*

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